Entrimagens

desenhaço

pela educação e pela democracia

Crianças num largo. Este conjunto de imagens foi produzido no Largo da Batata, numa atividade proposta pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, realizada em 30 de maio de 2018. Desenhar e pintar tornaram-se linguagens centrais nesse protesto, inclusive fisicamente. Crianças e jovens estavam lá traçando debates. A aula pública ministrada por docentes universitários trazia seus objetivos desde o título: “Educação ou barbárie: o compromisso do professor”. Junto a essa aula programada, crianças, jovens, adultes, adultos e adultas desenhavam e pintavam sobre grandes papéis sobre o chão deste Largo,  cuja história rememora mercado e ponto comercial no início do século 20 e a população indígena, no século 16.

O que interessa, a partir das imagens deste conjunto, é a pergunta: o que há de político no ato de desenhar envolvendo crianças, desde bebês, numa luta em defesa da educação? O que há de ato político em produzir desenhos com crianças em um Largo num grande centro urbano? Tratou-se de desenhar em conjunto e individualmente ao mesmo tempo e em espaço público que passou por um momento de sublime suspensão, ao mesmo tempo em que adquiriu o caráter de levante, como na acepção de Georges Didi-Huberman. O desenho, assim como a pintura, neste caso, comportaram-se como recursos livres a quem chegasse e quisesse participar, contribuindo para compor narrativas de uma história de luta política com as crianças. A prática do desenho capta o que está em trânsito e deixa vestígios das crianças nos espaços, ainda que efêmeros, guardados por poucos em algumas fotos, nos riscos que ficam pelos chãos das ruas e praças, na impermanente mancha de tinta esparramada por superfícies.

Esta atividade somou-se a outros atos com crianças e desenhos, como pode ser visto neste site, pois carrega como intento o desejo de provocar reflexões sobre outras cidades e relações entre pessoas, sem esquecer das crianças, desde bebês, aliás, lhes conferindo centralidade. As práticas de cooperação, do estar juntes, do aprender coletivamente foram ressaltadas. O desenho era um mote e, ao mesmo tempo, um registro. Contrapondo-se ao tempo mais frenético imposto pelas grandes cidades e pelo capital, seu fazer permite, em grande parte das vezes, o centramento, na pretensão de contrariar as relações de curto prazo, quem sabe, criando outras formas de relacionar-se com o outro num prenúncio de estabelecimento de laços antes inexistentes. Há um inegável ato político nisso e que ocupou-se de outro ato político favorável à educação e democracia.

Marcia Gobbi

 

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