Entrimagens

O projeto de pesquisa Imagens de São Paulo: moradia e luta em regiões centrais e periféricas da cidade a partir de representações imagéticas criadas por crianças moradoras de ocupações se desdobrou em várias questões, curiosidades, estudos e outras pesquisas. O ocupacriança é derivado deste projeto e tem como um de seus principais objetivos conhecer, com crianças, desde bebês, até 12 anos, os modos de viver e lutar por moradia dentro de ocupações de edifícios e terrenos que não cumprem sua função social situados no município de São Paulo. Buscamos conhecer como as crianças vivem e representam o viver nesses espaços da cidade e como é construída a infância em lutas pelo direito à habitação e à cidade. Fotografias e desenhos foram recursos metodológicos para a pesquisa citada e são compreendidos como agentes, ou seja, capazes de evidenciar e provocar mudanças, desejos e diversas formas de luta espraiadas e componentes do cotidiano de meninas, menines, meninos, tantas vezes negligenciadas/es/os em pesquisas que consideram apenas o universo adulto presente em movimentos sociais e na construção das cidades em tudo o que isso envolve. Está incluso aqui parte do acervo de fotografias resultantes da pesquisa com o desejo de que elas possam contribuir com reflexões sobre a infância, provocando diálogos e, quem sabe, mais questionamentos.

caminhar, fotografar, desenhar:

experiências com crianças na Praça da República (SP)

 

Esta pesquisa busca compreender os usos e apropriações do espaço urbano pelas crianças de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) da cidade de São Paulo, localizada na Praça da República, região central. O referencial teórico, que aporta as reflexões apresentadas, compõe-se com as ideias de Henri Lefebvre, Michel de Certeau e Francesco Careri. Tais autores apontam para a presença, nas práticas espaciais cotidianas dos sujeitos, de  experiências de apropriação a partir do uso que se contrapõem à lógica dominante de produção espaço. São  propostas às meninas e meninos participantes da investigação, situações de caminhadas, fotografia e desenho na Praça da República e arredores, que subsidiarão as reflexões sobre essas experiências de apropriações quando vividas por meninas e meninos. A partir dessas situações, são analisadas as relações estabelecidas entre adultos, crianças e espaço, buscando articulá-las a fenômenos sociais em contextos urbanos mais amplos. Como metodologia, utiliza-se a observação participante presente na perspectiva etnográfica, além da proposição para as crianças de situações de fotografar e desenhar. A conclusão aponta para a existência de apropriações infantis do espaço a partir do uso, destacando a contribuição de investigações com a infância em contextos urbanos para inclusão de sujeitos historicamente invisibilizados nas análises sobre as formas de produção do espaço da cidade.

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infâncias em traços e espaços:

criatividade, movimento e subversão em crianças e adultos

 

A arte restitui o sentido da obra, cita Lefebvre (1968), traz para a realização da sociedade urbana sua meditação sobre a vida e oferece múltiplas figuras de tempos e espaços apropriados, não impostos e aceitos passivamente. Sob esse prisma, pretende-se nesta pesquisa de Iniciação Científica, pensar sobre as dinâmicas estabelecidas na cidade e na arte a partir da produção artística gráfica urbana de adultos e crianças relacionando-as com a infância. Procura-se verificar a produção de elementos gráficos por adultos e crianças em espaço público, os motivos retratados, a maneira de se relacionar com determinada obra, as semelhanças e dissemelhanças existentes em diferentes localidades.

Dentre essas relações, serão consideradas: a produção de elementos gráficos em espaço público pelas próprias crianças; os motivos retratados; a percepção / identificação com a obra de uma pessoa adulta; a variação dos dados levantados em área central e não central.

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entre São Paulo e Bolívia:

a vida na cidade narrada pelas crianças bolivianas na Praça Kantuta

 

Esta pesquisa tem como objetivo compreender a percepção das crianças bolivianas, filhas de trabalhadores da Praça Kantuta, acerca de suas vidas na cidade de São Paulo. Parto dos pressupostos da sociologia da infância, enxergando as crianças como sujeitos da pesquisa, capazes de falar sobre suas próprias vidas, relatando visões e experiências válidas. A Praça Kantuta foi escolhida como local de pesquisa por ser muito frequentada pela população boliviana, com grande parte do público formado por famílias com crianças, além de ser palco de diversas manifestações culturais, como festas religiosas, comemorações de datas históricas, apresentações de dança e música.

A partir da combinação de diferentes métodos (desenhos, fotografias e conversas com as crianças) identifiquei cinco aspectos mais mencionados nas falas das crianças e que são analisados nesta dissertação: 1) A relação com a Praça Kantuta; 2) A dupla identidade e a percepção do Brasil e da Bolívia; 3) A casa; 4) A escola; 5) O lazer/Os sonhos. Como pontos mais importantes, destaco a exclusão das crianças da cidade, tanto pelo medo quanto pela dificuldade de acesso aos equipamentos de lazer, devido à distância e ao custo, assim como pela falta de tempo de seus pais, que trabalham de segunda a segunda. O lazer, bastante valorizado pelas crianças, acontece principalmente na televisão ou no YouTube, além de locais fechados como o Shopping D ou a escola.

A Praça Kantuta também se caracteriza como um espaço de lazer, sendo um dos poucos espaços públicos cujo uso é descrito pelas crianças e está vinculado ao trabalho de seus pais. O trabalho de seus pais influencia muito suas vidas e está bastante presente em seu cotidiano. O ambiente da costura divide o espaço com a casa e aos finais de semana as feiras ocupam seus dias. As questões relacionadas a identidade permeiam diversos aspectos de suas vidas, tais como a forma como vivem ou rechaçam as manifestações culturais na feira Kantuta, as relações que estabelecem com professores e colegas na escola e as imagens que fazem de São Paulo e Bolívia.

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ser criança imigrante boliviana na Ocupação Prestes Maia:

o cotidiano e os sonhos da infância

 

Este trabalho analisa o cotidiano e os sonhos das crianças imigrantes bolivianas de 2ª geração moradoras da ocupação vertical Prestes Maia, com o intuito de constatar como estes meninos e meninas vivenciam a infância cujas experiências transitam entre Brasil e Bolívia, em ser sem teto, frequentar a escola pública e principalmente em expressar as suas brincadeiras e maneiras de habitar a cidade e a moradia ocupada. O objetivo desta pesquisa se amplia ao trazer as narrativas dos familiares das crianças que expõe suas trajetórias como imigrantes, principalmente as dificuldades encontradas na cidade em relação ao trabalho e habitação, levando-os a participar da Frente de Luta por Moradia (FLM). A observação participante e entrevistas semiestruturadas (realizadas com familiares das crianças e uma das coordenadoras da Ocupação Prestes Maia) ocorreram ao longo do ano de 2016. As oficinas que inicialmente começaram na brinquedoteca da Ocupação se expandiram para outros espaços, como escadas, lajes e pátios, consistindo em práticas que envolveram rodas de conversa, brincadeiras, desenhos, fotografias e dobraduras. Os dados coletados e compostos com as crianças foram fundamentais na compreensão desta nova geração de imigrantes que se forma em um cotidiano permeado por dificuldades e sonhos de uma vida melhor, como a aquisição da casa própria.

Confirma-se a hipótese de uma infância que em seu cotidiano revela experiências que apontam para a composição de identidades híbridas, transitando entre Brasil e Bolívia e em busca dos seus direitos de crianças, como o brincar e habitar a moradia ocupada.

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“loira você fica muito mais bonita”:

relações entre crianças de uma EMEI da cidade de São Paulo e as representações étnico-raciais em seus desenhos

 

Este trabalho tem por objetivo compreender as relações entre as crianças e o que desenham no que se refere a questões étnico-raciais, tomando estas como ponto de partida para observar de que maneira o racismo pode ser construído e constituído desde a infância. O trabalho de campo, realizado em uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) na periferia da cidade de São Paulo, infere que elementos culturais presentes nos desenhos de meninas e meninos (tais como os traçados dos cabelos prioritariamente lisos e a ausência das representações das cores das peles nos desenhos), bem como questões abordadas sobre como é ter cabelo crespo e pele escura, podem significar uma condição não tão desejada, sobretudo para as meninas de 4 e 5 anos. Ainda que a professora da turma pesquisada seja negra e esteja comprometida com o debate étnico-racial, oferecendo diversas referências sobre personagens e personalidades negras, as vivências positivas referentes as questões da negritude são raras na realidade dos alunos, o que faz com que racismo institucional presente na escola apareça como pano de fundo e reforce o sentimento de muitas meninas desejarem ardentemente uma estética branca e etnicamente distinta das suas características naturais: serem loiras e terem cabelo liso.

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“foi respeitada a expressão da criança quando disse o que fez”?:

artes nos Parques Infantis através das fotografias de Benedito Junqueira Duarte

 

Esta pesquisa busca, através das fotografias de Benedito Junqueira Duarte, observar as manifestações artísticas das crianças frequentadoras dos Parques Infantis, entre os anos de 1937 e 1938, período em que Mário de Andrade dirigia o Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. Este departamento fez parte de um projeto organizado por um grupo de intelectuais paulistas e dialoga com as grandes mudanças que ocorreram na capital paulista no decênio de 1930, tendo como objetivo a formação de uma identidade nacional através do fomento às culturas populares brasileiras e de sua democratização por todos os segmentos sociais através de ações organizadas pelo Departamento de Cultura.

Os Parques Infantis, uma das seções do Departamento de Cultura, foram espaços voltados para o atendimento da infância das camadas populares, onde meninas e meninos receberiam assistência médica e também teriam contato com a arte e cultura através das danças populares, teatro, desenho, marcenaria, bordado e modelagem. Assim, dialogando com estudos acerca do contexto histórico, imagem fotográfica e infância, analisamos as imagens que nos revelam estas crianças manifestando-se artisticamente, conhecendo e se apropriando das culturas brasileiras.

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espaço do ausente:

o muro como suporte de presenças em tempos de isolamento social

 

“Entre os subsistemas e as estruturas consolidadas por diversos meios (coação, terror, persuasão ideológica) existem buracos, às vezes abismos” (LEFEBVRE, 2001), vazios que, segundo o autor, são também “lugares do possível”. A hipótese primeira desta pesquisa de Iniciação Científica é que os espaços públicos urbanos e sua composição arquitetônica se configuram não como espaço neutro, mas lugar de representações e pertencimentos de pessoas, lugar de registros que documentam e fazem falar os silenciados. Assim, pretende-se conhecer as representações em período de pandemia nos suportes públicos urbanos a partir de produções atuais de artistas urbanos. Quais narrativas têm sido transmitidas pelos muros e ruas das cidades? Quais são as técnicas e os suportes utilizados pelas e pelos artistas? Elas influenciam a forma como o assunto é abordado? Quando, como e de que forma essas intervenções são combatidas ou estimuladas pelo público expectador? Respondendo essas questões, identifica-se que as intervenções urbanas carregam em si poder comunicativo, informativo, transformador, e podem se configurar como “lugares do possível”. Lugares do possível porque, apesar de ser território de disputa, os registros projetam outras possibilidades de realidade, e porque o muro não é uníssono.

https://youtu.be/CYFTAvs8-4w

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